O "FLUXO"


AFINAL, O QUE É FLUXO DE CONSCIÊNCIA?

      Em pouquíssimas palavras, resumindo uma explicação que pode ser vasta e conter muitas ramificações, nas linhas abaixo vocês poderão ter uma breve explicação do "Fluxo". O Fluxo de consciência é uma técnica literária inicialmente formulada por vários autores russos no século XIX (Dostoievsky, Tolstoi, Gogol, Tchecov, citando alguns) e posteriormente por James Joyce, Proust, Virginia Woolf, dentre muitos outros. 
      O conceito de fluxo de consciência foi aberto por William James e se referia ao turbilhão de pensamentos na mente consciente, isto é, toda a variedade de impressões, sensações, raciocínios que se desenrolam em nível superficial. A definição básica de William James é a seguinte: O primeiro e mais importante fato concreto que cada um afirmará pertencer a sua experiência interior é o fato de que a consciência, de algum modo, flui. Estados mentais sucedem-se uns aos outros nela. Se pudéssemos dizer pensa-se, do mesmo modo que chove ou venta, estaríamos afirmando o fato da maneira mais simples e com o mínimo de presunção. Como não podemos, devemos simplesmente dizer que o pensamento flui. Ela está relacionada tanto com o fator psicológico do personagem e/ou história onde ele está inserido, e também foca o monólogo no interior de um ou mais personagens, transcrevendo-o. Muitas vezes a narrativa apresenta-se como um fluxo de consciência que intercepta o presente/passado, e quebra limites de espaço-tempo. Há em muitas obras, um rompimento da narrativa linear, onde pode não ser fácil se distinguir entre as lembranças da personagem e a situação presentemente narrada. 
      Na literatura brasileira, as obras de Clarice Lispector merecem destaque nessa corrente.

      O livro "Enquanto Houver Neve" remete (e muitas vezes contém) resquícios do fluxo de consciência, mas inicialmente de uma forma mais estruturada quanto à narração e espaço-tempo. O que fica claro no enredo do livro é o constante desbravamento do interior da personagem principal, Emily. 
      Ao longo do livro nós acompanhamos toda a história de vida de Emily e como ela lida com o mundo ao seu redor. Todos seus medos, pensamentos e sentimentos são narrados em terceira pessoa por um ser onisciente, ou seja, que sabe todas as condições emocionais no mundo interno da senhora Flourberry. Tanto a relação e aceitação de si própria perante ela mesma, como sua existência perante o mundo e os outros humanos. O livro também aborta em muitos pontos a observação da vivência do cotidiano de uma terceira pessoa, imaginando ou tentando entender a vida alheia, dos milhares de desconhecidos com quem cruzamos em nosso dia-a-dia, os quais muitas vezes não voltamos a ver. É uma 'encarnação' do leitor e um processo de visão a partir dos olhos dos outros; o entendimento de como o mundo pode ser vários lugares ao mesmo tempo, se visto por olhos diferentes. 


Para saber mais sobre Fluxo de Consciência: 
- Revista Samizdat. http://xrl.in/4whz 
- ELLMANN, Richard, James Joyce. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1989. 
- JAMES, William, The Stream of Consciousness. 1892. http://psychclassics.yorku.ca/James/jimmy11.htm 
- JOYCE, James, Dubliners. New York: Dover Thrifts Editions, 1991. 
Portrait of the artist as a young man. New York: Penguin Books, 1982. Ulysses. New York: Random House, 1946.